quinta-feira, 14 de junho de 2007

Dia Anual de Alerta sobre a violência contra as Pessoas Idosas

15 de Junho assinala-se, pela segunda vez, o Dia Anual de Alerta sobre a Violência contra as Pessoas Idosas.
Saiba mais sobre as Definições de 7 tipos de abuso para idosos não institucionalizados e conheça os Indicadores de Risco de Violência em Serviços e Equipamentos:

O comité nacional de abuso de idosos nos Estados Unidos (National Center on Elder Abuse, 1998), propõe as seguintes definições de 7 tipos de abuso para idosos não institucionalizados, com base numa análise e revisão das definições já existentes:
a) Abuso físico: o uso não acidental da força física que pode resultar em ferimentos corporais, em dor física ou em incapacidade. As punições físicas de qualquer tipo são exemplos de abuso físico. A submedicação ou sobre medicação também se incluem nesta categoria;
b) Abuso sexual: contacto sexual não consensualizado de qualquer tipo com uma pessoa idosa;
c) Abuso emocional ou psicológico: inflicção de angústia, dor ou aflição, por meios verbais ou não verbais; a humilhação, a infantilização ou ameaças de qualquer tipo incluem-se nesta categoria;
d) Exploração material ou financeira: uso ilegal ou inapropriado de fundos, propriedades ou bens do idoso
e) Abandono: a deserção de ao pé de uma pessoa idosa por parte de um indivíduo que tinha a sua custódia física ou que tinha assumido a responsabilidade de lhe fornecer cuidados.
f) Negligência: recusa ou ineficácia em satisfazer qualquer parte das obrigações ou deveres para com um idoso.
g) Auto-negligência: comportamentos de uma pessoa idosa que ameaçam a sua própria saúde ou segurança. A definição de auto-negligência exclui situações nas quais uma pessoa idosa mentalmente capaz (que compreende as consequências das suas decisões) toma decisões conscientes e voluntárias de se envolver em actos que ameaçam a sua saúde ou segurança.
Esta tipologia, ou tipologias similares, tem sido explorada no sentido de nela incluir dezenas formas diferentes de cada um dos tipos de abuso. Com base em Anetzberger, 2001 e Nagpaul, 2001, vejamos alguns exemplos de cada um dos diferentes tipos de abuso:
Abuso físicoa) Bater, empurrar, compelir, arranhar ou restringirb) Ameaçar com uma facac) atacar, danificar ou ferir sexualmente
Abuso psicológicoa) Gritar, chamar nomes, insultarb) Ameaçar com ferimento físicoc) Fechar o idoso num quartod) Seguir o idoso ou andar sempre à volta dele
Negligência pelo próprio ou pelos outrosa) Negar cuidado e supervisão adequados (especialmente em casos depessoas com incapacidades físicas ou mentais)b) Não estar a ser tratado por problemas físicos de saúdec) Isolado dos outrosd) Vestido inadequadamente face ao tempo ou às condições ambientaise) Falta de cobertura adequada
Exemplos de Exploraçãoa) Uso, venda ou transferência de dinheiro, propriedade ou outros benssem consentimentob) Assinatura forjada em cheques ou em outros documentos financeirose legaisc) Largas somas de dinheiro retiradas de contas bancárias (sem o seuconhecimento)
Fonte: Factores de risco e Indicadores de Abuso e Negligência de Idosos, José Ferreira-Alves

Indicadores de Risco de Violência em Serviços e Equipamentos*

ALIMENTAÇÃO E BEBIDA- não oferecer variedade na comida e bebida- usar a restrição de alimentos como forma de castigo- misturar vários tipos de comida, pouco atraentes ao gosto- servir comida mal cozinhada e/ou sem estar na temperatura adequada- má apresentação e fraca higiene dos suportes alimentares- não respeitar as dietas alimentares ou necessidades dietéticas- servir alimentos e bebidas fora do prazo- misturar bebidas sem atentar aos gostos de cada um [e.g. assumir que todas as pessoas gostamde café com leite]- usar substitutos de comida em vez de alimentos- marcar utensílios de alimentação sem aparente justificação.
VESTUÁRIO- vestir os utentes com roupas e sapatos uniformizados e/ou em más condições- vestir os utentes com roupas de pessoas falecidas- usar e tornar a roupa comum e não personalizada- marcar a roupa por fora e de forma visível- não vestir os utentes sem justificação aparente.
CONFINAMENTO- fechar os utentes fora e dentro dos quartos- fechar o equipamento para que as pessoas não saiam de lá ou para as imediações- uso injustificado de objectos imobilizadores [correias, ligaduras...]- amarrar injustificadamente utentes à cama, cadeiras, cadeirões...
RESTRIÇÃO SENSORIAL- deixar pessoas com dificuldade de mobilização sentadas ou deitadas durante largosperíodos- não mobilizar regularmente pessoas acamadas- não providenciar espaços e actividades de estímulo e alegria ajustadas aos utentes- não providenciar meios de participação e expressão- não permitir a privacidade- não abrir o equipamento à comunidade e criar “guetização”
SAÚDE- não procurar ajuda médica para os utentes sempre que necessário- não informar o staff clínico sobre alteração de estados de saúde, nomeadamente quedas- não providenciar, facilitar ou alertar para a necessidade de ajudas técnicas dentais, auditivas e visuais- não providenciar cuidados preventivos, como cuidar da pele de pessoas subitamente incontinentes- ignorar situações em que os utentes se queixam de dores- não limpar dentaduras, óculos e outras próteses externas- não respeitar as medicações prescritas- usar de medicamentos de origem opiácea e semelhantes, sem ordem médica
SUPERVISÃO / PESSOAL- não providenciar pessoal adequado e em número suficiente- não dar ou facilitar oportunidades formativas e de supervisão ao pessoal- não se assegurar das referências profissionais dos colaboradores- empregar pessoal não qualificado para as funções a desempenhar- deixar pessoas em situação de dependência a serem acompanhados por pessoas nãoqualificadas- não assegurar a existência constante de pessoal para fazer face a emergências- reduzir o pessoal ao mínimo possível ou não assegurá-lo (em especial, horário nocturno, fim-de-semana, feriados)- não relembrar o pessoal dos direitos dos utentes e não controlar situações de abuso de poder
AMENIDADES- divisões frias ou excessivamente quentes- divisões sem arejamento- decoração e mobílias sujas e/ou degradadas e/ou que constituem barreiras arquitectónicas- iluminação inadequada e/ou restrição da luz natural- permitir que os utentes durmam em colchões molhados, sujos ou em mau estado geral
SEGURANÇA- uso de equipamento eléctrico em mau estado- existência de barreiras à acessibilidade [tapetes soltos, móveis de acabamento em bico, escadas sem corrimão..]- alarmes de fogo inadequados e/ou equipamento anti-fogo fora do prazo- reduzir o pessoal ao mínimo possível ou não assegurá-lo (em especial, horário nocturno, fim de semana, feriados)- não providenciar campainhas de alarme acessíveis aos utentes- não existirem várias saídas de emergência ou bloqueio destas- portas com trinco de segurança por fora- inexistência de sinaléctica- não fazer sessões de informação para os clientes sobre a segurança
PRIVACIDADE- o uso de camas múltiplas por quarto e ainda sem biombos ou cortinas- não fechar a porta ou correr as cortinas durante a higiene pessoal dos utentes- apressar o utente para a satisfação das suas necessidades fisiológicas- não permitir que o utente esteja só com os seus outros-significativos e familiares- relatar pormenores da vida do utente, confidenciados por este em privado- permitir ou forçar a violação de sigilo dos processos sociais e médicos
HIGIENE PESSOAL- abrir material esterilizado sem ser na altura imediatamente prévia dos cuidados- banhar vários utentes com a mesma água- deixar os utentes sujos [fezes e urina] durante longos períodos de tempo [e.g. fraldas]- uso de toalhas, esponjas, escovas de dentes, escovas e pentes comuns- não lavar doentes acamados na totalidade durante longos períodos de tempo- não ter em atenção o pudor dos utentes
ASPECTOS FÍSICOS- bater e empurrar os utentes- arrastar pessoas das cadeiras ou da cama- tirar e pôr a roupa e prestar outros cuidados de forma brusca- negligência na ajuda à alimentação- não satisfação das solicitações para as necessidade fisiológicas
SEXUALIDADE- assédio sexual- ataques sexuais [violação, voyeurismo forçado...]- comentários sexistas- fazer comentários homofóbicos- falta de respeito pela sexualidade dos utentes, nomeadamente quanto à sua orientação sexual
COMUNICAÇÃO- praguejar com os utentes- chamar aos utentes nomes impróprios, como “bebé”, “queridinho” e outros mais rudes- fazer comentários sexistas- fazer comentários racistas- gritar e ameaçar os utentes/clientes e/ou suas visitas- conversas entre o pessoal sobre os utentes/clientes, à frente deles ignorando-os- mentir e fazer intrigas com os residentes
GESTÃO PATRIMONIAL- reter o dinheiro dos residentes sem ser a seu pedido- cobrar dinheiro-extra por leite, café, chá e doces- cobrar a electricidade aos utentes- retirar dinheiro e valores dos utentes sem seu consentimento- pôr as economias dos residentes na conta pessoal de funcionário, proprietários ou dirigentes- ser cúmplice quando os familiares gerem os recursos financeiros do utente, sem ordem de tribunal- encorajar os utentes a dar presentes e outras “recompensas” ao pessoal- tomar total controlo do dinheiro do utente- cobrar aos residentes actividades como passeios, visitas...
MEDICAÇÃO- administrar sedativos ou outra medicação, sem ordem médica- reter medicação- dar medicação de um utente a outro- não dar a medicação a horas certas ou nas doses correctas.

* Grelha adaptada do original Griffin, Janice “Abuse in a Safe Environment” in PRITCHARD,Jacki (ed.), 1999, Elder Abuse work best practice in Britain and Canada, London, Jessica Kingsley Publishers, pp. 121-5. Publicada no Livro" Prevenção da Violência Institucional perante pessoas idosas e em situação de dependência", Edição do Instituto para o Desenvolvimento Social, Maio de 2002

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